O Lar e a Simplicidade

A morada é onde muitas vezes repousamos, comemos, investimos, deixamos nossos pertences. Um lugar de passagem, para muitos adultos como nós.

Pra mim, mais que um estacionamento para o corpo, o lar é a construção diária de afetos, conforto, anseios, onde depositamos as emoções ao longo do dia ou após passarmos bastante tempo fora dele. Por isso mesmo, precisa ser simples, original e ter a nossa cara, para que nos sintamos à vontade e desejemos nele permanecer, mesmo que tenhamos apenas algumas horas, mas que tenhamos mesmo vontade de ficar.

Assim, eu não conseguiria habitar um local milimetricamente decorado por um/a arquiteto/a que algumas vezes ao longo de um mês passasse algumas horas comigo e o maridão. Afinal, para ter a nossa cara, tem que conter a nossa história, as nossas fotografias, os móveis que escolhemos, aos poucos, delineando nosso jeito de ser, evoluindo como o nosso relacionamento.

Logo que fomos morar juntos, nada combinava com nada; era uma mistura que não tinha pé nem cabeça. Mas era assim mesmo que nós éramos, histórias que se uniam trazendo as diferenças, as semelhanças, a grana curta e muitas expectativas.

Hoje, já nos desfizemos de muitos dos objetos que fomos adquirindo ao longo do tempo e fizemos a energia circular, como dizem no feng shui; distribuímos um pouco de nós e recebemos também um pouco de quem faz parte do nosso crescimento: novos amigos, parentes que se aproximaram ou que partiram, mas que deixaram a sua marca… E também a saudade, é claro!

Mesmo que hoje a gente ache que tudo esteja harmônico, cada vez mais trazemos algo de fora pra complemetar: conversas, olhares, novas idéias e muita vontade de continuar mexendo, tornando, assim, esse lugar uma espécie de obra inacabada e flexível, moldável como argila.

Agora, enquanto escrevo, mil momentos me vêm à mente e fico realmente emocionada por poder dizer que fomos conquistando espaços; talvez essa seja a razão pela qual me emocione tanto quando alguém diz que está se mudando, vendendo, comprando, alugando e até demulindo sua residência.

Deu vontade de mexer nos guardados e pegar o Alemão pra olharmos as fotos, relembrarmos as conversas, os sonhos e os projetos que tínhamos, as coisas que conquistamos e analisarmos como nossas metas foram se modificando a cada novo membro que chegou: a compra do primeiro cão (Patrick), depois a adoção de um vira-lada maneiro (Bob Esponja), mais tarde a tão sonhada primeira gestação que nos trouxe a desafiadora Larissa, pra completarmos com a chegada do Caio, que nos convida a olhar pra tudo de um jeito diferente, mostrando que quanto mais simples e menos cheia de cacarecos, melhor fica a casa. – E é claro que vou fazer isso ainda hoje, depois que os pequenos dormirem!!!

A casa foi ganhando novos contornos: brinquedos, livros infantis, rabiscos nas paredes (sorte que inventaram as tintas laváveis!), pareces coloridas… E novos sabores também, porque as crianças nos fazem olhar até para os alimentos que circulam pela cozinha de uma forma diferente!

Eu adoro frutas, sopas, saladas, mas para atrair as crianças acho que a cozinha virou uma espécie de canto de alquimia. E parece que quanto mais natural, mais saboroso fica o alimento, enquanto eles ainda são pequenos. Meus filhos saboreiam as frutas com prazer. Mas a loira já chegou àquela fase em que tudo parece nojento, já que começou a conhecer os sabores artificiais e se identificou com a alimentação cheia de tranqueiras de alguns amigos, mas ainda sem ter abandonado completamente, graças a Deus, a naturebice que aprendeu em casa.

Então, de certa forma, acho que minha casa, em sua complexidade, é um lugar mais simples e muito mais bacana do que aqueles locais planejados e assépticos, mas por isso mesmo é um lugar onde me sinto completa e feliz. E percebo que cada vez mais gente gosta de vir aqui… talvez seja reflexo de tudo isso!

Beijos, bom feriadão!