O Peso das Palavras

Há pouco mais de 2h li um artigo no site do jornal O Globo em que um renomado cientista fala a respeito do aborto como a alternativa para situações como o abandono e a morte de bebês com síndrome de down e outras deficiências.

Não me chocaria, como bióloga, que ele explicasse que outras espécies de mamíferos descartam, matam e até mesmo comem seus filhotes que são mais frágeis e colocam em  risco a ninhada. Porém, a forma como ele fez suas colocações foi muito cruel e soa agressiva mesmo porque as palavras de um especialista em vida e sua evolução foram no sentido de taxar como sendo imoral uma mulher levar a gestação de um filho portador de necessidades especiais a termo.

Richard Dawkins é conhecido por ser autor de livros muito interessantes e com recordes de venda porque são realmente intrigantes e provocativos. Mas a provocação que ele procurou fazer, nesse conjunto de situações que ele cita, como a possibilidade de um filho viver menos que seus pais, ou da preocupação constante que os genitores têm com um filho cuja mentalidade, já na idade adulta, ainda corresponde à de uma criança – e quem cuidará dele quando falecerem? -, foi feita de forma extremamente infeliz.

 

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Imagem: www.hospitaalbroeders.nl

 

As palavras têm peso, marcam, magoam. Conheço de perto histórias de famílias a quem profissionais da saúde recomendaram que abandonassem seu membro cujo futuro era incerto e provavelmente curto, aos cuidados de terceiros, pois não valeria a pena o investimento.

O que nos diferencia dos demais seres vivos é o raciocínio, mas também a capacidade de ter empatia e sensibilidade. A lógica, o instinto, nem sempre farão sentido, principalmente em relacionamentos tão fortes como os laços que se formam entre pais e filhos.

Pode-se ter muito conhecimento científico sendo colocado a serviço do preconceito. Isso ficou bem perto da eugenia. Faltou sensibilidade, meu caro. E sobrou vergonha alheia.